Barrigas e Rebentos

Higienização nasal no recém-nascido

 

As afeções respiratórias são algo frequentes e recorrentes na vida das nossas crianças.

No inverno, principalmente, surgem as gripes e as constipações, e com elas, a congestão e a obstrução nasal.

A lavagem nasal com soro fisiológico tem se revelado uma das medidas mais eficazes e uma das melhores práticas na gestão das mesmas, apresentando como principal objetivo o alívio dos sintomas e a prevenção de possíveis complicações.

A higiene nasal torna-se especialmente importante nos recém-nascidos e em bebés até aos 6 meses de idade, uma vez que eles respiram preferencialmente através do nariz e não conseguem assoar-se sozinhos, ficando com as fossas nasais obstruídas, o que dificulta a sua respiração, o seu bem-estar geral e o dos pais.

É importante os pais estarem atentos ao comportamento do seu bebé, pois períodos de prostração ou de irritabilidade, diminuição do apetite ou dificuldades no aleitamento, bem como dificuldades ou alterações do padrão de sono estão muitas vezes relacionados com a dificuldade respiratória.

A lavagem nasal é recomendada na maioria dos casos de congestão ou obstrução nasal em recém-nascidos, bebés e crianças, também pela sua eficácia, facilidade de aplicação, tolerabilidade e escassez de medicamentos alternativos em crianças menores de 6 meses.

Pode ser realizada todas as vezes que sentir que o seu bebé tem necessidade ao longo do dia, privilegiando a sua realização antes das refeições e antes dos períodos de sono.

Há estudos que mostram que a limpeza feita, pelo menos, duas vezes ao dia é capaz de reduzir até 40 por cento da incidência de gripes e constipações.

É importante familiarizar o bebé desde cedo com esta prática e introduzi-la na sua rotina diária. Após o banho, por exemplo, poderá ser a altura ideal para introduzir este cuidado, pois, geralmente, os bebés estão mais relaxados e tranquilos, eliminando dessa forma o excesso de secreções nasais, principalmente nos meses em que as infeções respiratórias são mais frequentes.

Para isso vai necessitar de:

  • Soro fisiológico (à temperatura ambiente ou ligeiramente aquecido – maior tolerância do bebé e menor irritabilidade da mucosa nasal);
  • Seringa de uso individual;
  • Adaptador de seringa (não é imperativo adquiri-lo)
  • Toalha de rosto / manta / fralda de pano (usados para envolver o bebé, de forma a mantê-lo mais contido e seguro).
  • No caso dos recém-nascidos a forma ideal de fazer a higienização é:
  • Deitado de barriga para cima;
  • Coloque a cabeça do bebé apoiada, ligeiramente, para trás e rodada;
  • Coloque o soro fisiológico na narina do lado para o qual a cabeça do bebé está rodada;
  • Repita este processo na outra narina, rodando a cabeça do bebé para esse lado.

A instilação do soro deve ser feita de uma forma gradual e contínua, observando-se a sua saída pela narina contrária, permitindo uma limpeza por arraste do muco, onde poderão estar alojadas impurezas, vírus ou até mesmo bactérias.

A quantidade de soro fisiológico a instilar até ao primeiro ano de idade pode ser até 5 ml.

Após a irrigação nasal com soro fisiológico, se necessário, pode ainda aplicar uma aspiração suave com recurso aos dispositivos de aspiração disponíveis no mercado para esse fim.

Outra forma prática de limpar o nariz das crianças são os sprays nasais, sendo que estes, apesar de mais funcionais por serem anatómicos e fáceis de usar, mecanicamente, não são tão eficazes como a lavagem por meio de uma seringa.

Qualquer um destes procedimentos pode ajudar a prevenir estas situações e podem ser feitos em casa pelos pais.

 

Bibliografia:

1. https://abope.org.br/obstrucao-nasal-no-recem-nascido/ (acedido em 18/01/2022).

2. http://criancaefamilia.spp.pt/doencas-comuns-e-outros-problemas/constipação.aspx (acedido em 22/01/2022).

Trabalho elaborado por:

Enfª ESMO Filipa Magalhães

A Equipa Barrigas e Rebentos

Puerpério: alterações emocionais e psicológicas

 

O puerpério corresponde ao período que decorre desde o parto até que a mulher consiga restabelecer o seu estado físico normal anterior à gestação. Nesta fase ocorrem grandes ajustes fisiológicos, uma vez que a gravidez resulta em transformações fisiológicas importantes no corpo da mulher e também psicológicos pois ocorrem grandes modificações corporais num curto espaço de tempo.

O período de puerpério é também caracterizado por adaptações psicossociais, incluindo as transformações no papel parental, nas relações familiares e na autoperceção e imagem corporal, muitas das quais demoram significativamente mais do que 6-8 semanas para resolver. Estas transições, juntamente com a recuperação física e o trabalho que é necessário para atender às necessidades do bebé, fazem com que o puerpério seja um momento de maior vulnerabilidade a problemas de saúde para as mulheres. Podemos diferenciar as alterações emocionais em:

Blues pós-parto (BBP)

O blues pós-parto (BPP) é uma oscilação do humor considerada normal que afeta aproximadamente 50% das puérperas. É um fenómeno transcultural que surge nos primeiros três dias após o nascimento da criança e que termina entre o sétimo e décimo dias, geralmente resultando num pico de sintomas entre o quarto ou quinto dia após o parto. A sintomatologia caracteriza-se por cansaço, choro fácil, tensão, irritabilidade e sentimentos de inadequação. Trata-se de um episódio depressivo leve, que não chega a comprometer o funcionamento social ou a relação da díade mãe-bebé. Estas manifestações podem ser acompanhadas por dificuldade de concentração, de raciocínio e perturbação da memória. As causas podem estar relacionadas com fatores biológicos/bioquímicos pelas alterações hormonais que ocorrem de maneira intensa no organismo da mulher.

O tratamento consiste em esclarecimento, compreensão e apoio, por parte da família e dos profissionais de saúde, para que a puérpera desenvolva autoconfiança e habilidade para cuidar da sua criança.

 

Depressão Pós-Parto (DPP)

A DPP diferencia-se do BPP em inúmeros aspetos, a DPP não se inicia antes da 8ª semana enquanto o BPP não está presente depois da 2ª semana do puerpério, sendo caracterizada pela sua gravidade sintomatológica, assim como nos efeitos adversos que se verificam ao nível da mulher, conjugue e do bebé.Desta forma reconhece-se a possibilidade de sintomas depressivos no puerpério, acrescentando que podem ser acompanhados por sintomas de ansiedade. Ressalta a necessidade de diferenciá-los do episódio de tristeza pós-parto, presente nos 10 primeiros dias do puerpério, de característica transitória e não prejudicial ao funcionamento da mulher.

Prosseguindo, a gravidade da DPP deve-se ao facto de se saber que a maior parte das mulheres alvo desta perturbação, a negam e não procuram ajuda para a resolução das dificuldades que sentem. Ainda, os estudos apontam que aproximadamente 50% dos casos de depressão que ocorrem no pós-parto têm início nos primeiros três meses após o nascimento e 75% nos primeiros seis meses.

As principais manifestações da DPP são tristeza, perda do prazer, choro fácil, abatimento, alterações do apetite, distúrbios do sono, fadiga, irritabilidade, hipocondria, dificuldade de concentração e memorização e redução do interesse sexual. Do mesmo modo, verifica-se ansiedade e preocupações elevadas, quase totalmente centradas no bem-estar do bebé; existe culpabilidade elevada quase sempre por não ser capaz de amar e de cuidar adequadamente do bebé; existe igualmente baixa auto estima materna, uma vez que a mãe considera que não está a desempenhar corretamente o seu papel.

 

Psicose puerperal

A psicose puerperal é um distúrbio do humor caracterizando-se por perturbações mentais graves e agudas, frequentemente alucinatórias tendo início entre as primeiras duas ou três semanas após o parto. Trata-se de uma perturbação psicopatológica mais grave que o blues ou a depressão pós-parto. Atinge um número reduzido de mães e geralmente em mulheres com antecedentes de vulnerabilidade psicopatológica, ou seja, em mulheres que já apresentavam problemas psiquiátricos prévios. A duração do surto psicótico que tem início no puerpério é, geralmente de cinco a doze meses. Apesar de ser transitória, reconhecem-se adversas e severas implicações tanto para a saúde da mãe como para a do bebé.

 

Transtornos de Ansiedade

A ansiedade é um estado de humor negativo acompanhado de sintomas corporais de tensão física e apreensão em relação ao futuro. 50% dos episódios depressivos no pós-parto começam antes do parto. As mulheres com episódios depressivos com frequência têm ansiedade grave e até mesmo ataques de pânico.

Deste modo, a ansiedade é repetidamente associada à gestação e ao puerpério como uma condição normal decorrente da fase de ajuste às mudanças físicas, psicológicas e sociais impostas pelo período. No entanto, uma ansiedade patológica pode prejudicar o bem-estar da mãe e do bebé.

Conforme o exposto, tanto sintomas depressivos como os de ansiedade podem trazer prejuízos significativos às puérperas. Os dados sugerem a importância de identificar estes quadros durante os atendimentos de rotina dos serviços de saúde, para que o planeamento acerca das estratégias de tratamento possa ser melhor conduzido.

Deve ocorrer imediatamente em contexto hospitalar, no qual as primeiras alterações são detetadas, como o stresse, as dores, as intercorrências no processo de amamentação, a insegurança face ao cuidado do recém-nascido, medo e sentimentos de ambivalência.

Toda a mulher que gera um filho, deseja e espera um bebé saudável, que não seja prematuro e que não demore muito a nascer, nem cause muita dor no momento do parto. No entanto, pode vir a perceber que o seu bebé não corresponde ao imaginado, levando a que esta possa vivenciar a maternidade da melhor forma possível.

Outro momento muito importante inserido no puerpério é a amamentação. Para muitas mulheres, um tempo maravilhoso onde mãe e bebé estão perfeitamente ajustados, sendo levados à nova fase de conhecimento mútuo e fortalecimento de vínculos. Entretanto, para outras mulheres, pode ser um momento de grande dificuldade e desespero quando ocorre algum desajuste. Pode ocorrer também que a mulher experimente insegurança e medo em relação à qualidade do leite, à capacidade em amamentar e à futura estética das mamas.

As alterações emocionais e psicológicas pós-parto quando sub-diagnosticadas e não tratadas, fazem com que as puérperas se sintam incapazes de exercer o papel de mãe, sofrendo com sentimento de culpa e variações de humor e podem provocar sérias dificuldades à prestação do seu papel parental.

 

Texto elaborado por:
Por Enfª Elsa Almeida, Enfª Helena Barros e Raquel Silva do Serviço de Obstetrícia e Ginecologia
Bibliografia:
ASSEF, Mariana Rodrigues (et al). Aspetos dos transtornos mentais comuns ao puerpério. Revista Eletrônica Acervo Científico. 2021. em https://doi.org/10.25248/reac.e7906.2021
DIREÇÃO-GERAL DA SAÚDE (DGS). Manual de Orientação para profissionais de saúde: Promoção da Saúde Mental na Gravidez e Primeira Infância. PORTUGAL. Ministério da Saúde. Direcção-Geral da Saúde. Lisboa: DGS, 2005.
FROTA, Cynthia Araújo (et al). A transição emocional materna no período puerperal associada aos transtornos psicológicos como a depressão pós-parto. Revista Eletrônica Acervo Saúde. 2020. em https://doi.org/10.25248/reas.e3237.2020
MIRANDA, Andréa Corrêa. Aspetos Psicológicos e Inconscientes da Mulher no Período Puerpério. Rio de Janeiro. 2018
OMS (2018)

Nasceu um irmão

 

O nascimento de um irmão é motivo de felicidade, mas também, um acontecimento que implica mudanças estruturais e organizacionais na família, e por mais que esta se prepare, é inevitável a transformação no relacionamento com o(s) filho(s) mais velho(s), podendo surgir ansiedade nos pais e, sobretudo, na criança.

De um modo geral, as reações mais frequentemente observáveis nas crianças, durante a gestação e após o nascimento de um irmão, são comportamentos expectáveis, normais e transitórios desta fase de adaptação.

 

Que comportamentos podem surgir no irmão mais velho?

 

Pode surgir apatia, aumento dos comportamentos de confronto e de agressividade com a mãe e com o bebé, problemas no sono, nos hábitos de alimentação e de higiene, as crianças tornam-se mais implicativas, desafiadoras e por vezes, regridem nos comportamentos em que já mostravam autonomia (por imitação).

É igualmente frequente que estes comportamentos oscilem com períodos de atitude protetora e de curiosidade para com o irmão mais novo.

As atitudes apresentadas pela criança não devem ser condenadas e podem ser minimizadas através de algumas estratégias.

O entendimento dos pais e a forma como expressam os próprios sentimentos são fundamentais para ajudar o filho mais velho a lidar com as emoções perante a chegada de um novo membro à família.

 

Que estratégias podem ser adotadas pelos pais?

 

Para minimizar os comportamentos de “chamada de atenção” é basilar que os pais se preocupem com a preparação da chegada do irmão.

A antecedência desta preparação depende da idade da criança e a informação transmitida deve ser simples, concreta e verdadeira. Deve evitar-se que ocorram alterações à rotina do filho mais velho pouco antes do nascimento ou logo após este (por exemplo passar a dormir noutra cama, largar a chupeta…). Durante o período de tempo que a mãe permanecer no hospital a criança deve ficar com pessoas que lhe sejam familiares, de forma a não alterar muito a rotina que lhe era habitual. Para diminuir a angústia da separação a visita à mãe durante a hospitalização é importante.

Na chegada do novo elemento da família a casa a participação do pai nos cuidados ao filho mais velho é de crucial importância, uma vez que, a mãe estará mais dedicada ao filho mais novo.

Outra estratégia fundamental é o reforço dos comportamentos positivos que valorizem a criança, a sua autonomia, e a sua integração nos cuidados ao irmão mais novo, ainda que estes se resumam a pequenos gestos. Mesmo no meio do turbilhão de alterações que um recém-nascido traz a uma casa, é essencial que os pais consigam dedicar tempo e atenção exclusiva ao filho mais velho, nem que sejam 15/30 minutos por dia para brincar no jardim ou ler uma história, é importante que este sinta que continua a existir tempo para ele.

 

A importância da relação entre irmãos

 

A relação entre irmãos provavelmente será mais duradoura do que qualquer outra relação na vida de uma pessoa, e desempenha um papel essencial na vida das famílias. É um laboratório natural para a aprendizagem das crianças pequenas a respeito do seu mundo. É um lugar protegido e seguro para aprender a interagir com outras crianças que são parceiros interessantes e envolvidos em brincadeiras, para desenvolver formas construtivas de resolver divergências e aprender a regular emoções positivas e negativas.

Os benefícios do estabelecimento de relações afetuosas e positivas entre irmãos podem durar a vida inteira, entre eles incluem-se o sentido de responsabilidade de cuidar de alguém e de encontrar um modelo de referência no desempenho de um papel. Portanto, o relacionamento entre irmãos assume-se como uma grande escola para que cada um deles desenvolva empatia, aprenda a partilhar, debater, aceitar e amar outro indivíduo para além dele mesmo.

Os irmãos fazem parte da história pessoal de quem os tem, são importantes no desenvolvimento pessoal de cada indivíduo e integram algo único e precioso que é a partilha dos pais e de memórias.

A equipa Barrigas e Rebentos deseja um:
FELIZ DIA DOS IRMÃOS!

Enfª Joana Machado e Enfª Carla Cunha
Em colaboração com a equipa Barrigas e Rebentos, Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do CHTS
barrigaserebentos@chts.min-saude.pt
Referências Bibliográficas:
Oliveira. D.S. (2013). Regressão e Crescimento do Primogênito no Processo de Tornar-se Irmão. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Vol. 29 n.1, pp.107-116.
Sá, E. (2020-05-13) – A depressão pós-bebé do irmão mais velho (post em blog). Retirado de eduardosa.com
Schroeder, C. S.; Gorden, B. N. (2002) Assessment and Treatment of Childhood Problems, 2ª ed. New York: The Guilford Press
Tosta, R.M. (2018). Tornar-se Irmão: o imaginário da Criança frente à gravidez materna e a chegada de um irmão. Psicologia Revista. Vol. 27, n. 1. ISSN: 2594-3871

O sono do recém-nascido

 

Certamente já ouviram ou leram a expressão “A dormir é que se cresce.” Pois bem, o sono tem uma função protetora comum a todos organismos, que permite a reparação e a recuperação após atividade.

No bebé/criança, esta é uma necessidade biológica com impacto no crescimento, desenvolvimento e estado de saúde. Desempenha, igualmente, um papel importante na modulação da relação precoce entre pais e bebé.

Apesar do padrão estável de sono só se definir completamente aos 12 meses, é importante reconhecer que existem bebés nos quais o sono é excessivamente desorganizado e fragmentado, transformando-se num momento particularmente difícil e angustiante, diga-se até desafiante, para pais e crianças – motivo de conflito parental, com disfunção familiar a nível emocional.

No 1º mês, por exemplo, os bebés podem dormir entre 16 a 20 horas/dia e nascem sem estarem capacitados para regular os ciclos de sono e vigília e, ao contrário dos adultos, acordam entre ciclos de sono.

Por isso a importância de uma intervenção preventiva quanto ao ensino de hábitos de sono corretos, de forma que os papás estejam capacitados para guiar e monitorizar o seu sono até que o bebé se torne autónomo no seu próprio sono.

Nos primeiros meses de vida os bebés devem dormir no quarto dos pais, dado que ainda está numa fase muito dependente e, dessa forma, poderá consolidar os laços com a casa e desenvolver a sua autonomia.

Sendo seres únicos, cada bebé deve ser encarado como um caso particular, pelo que não se pode generalizar os problemas de sono da criança. Deixamos, contudo, aqui alguns ingredientes essenciais para o sono do recém-nascido (RN) e para uma noite com maior sucesso.

 

HÁBITOS DE SONO DO NASCIMENTO ATÉ AOS 3 MESES DE IDADE

  • As crianças que têm dificuldade em dormir bem libertam uma maior quantidade de cortisol que, por sua vez, faz com que acordem mais vezes durante a noite, surgindo, assim, um ciclo vicioso repleto de ainda mais stress e cansaço;
  • Os primeiros 14 dias de vida de um RN são, na verdade, os mais complicados pois para além do facto de a mãe estar sensível e emocional está, também, em fase de recuperação do parto, tendo, ainda, de enfrentar as primeiras noites mal dormidas;
  • Os recém-nascidos ainda não têm a capacidade de distinguir o dia da noite e os seus estômagos apenas conseguem reter pequenas quantidades de leite, que lhes dará alimento para algumas horas.

ESTRATÉGIAS DE SONO

  • Para diferenciar o dia da noite, isto é as 8 da manhã das 8 da noite, é essencial que o bebé esteja fora do quarto sempre que esteja acordado;
  • Quando o bebé estiver pronto para dormir, os pais devem levá-lo para o quarto e colocá-lo na cama para uma sesta;
  • Durante o dia, o bebé deve ser alimentado em divisões iluminadas pela luz solar, num ambiente menos resguardado e não devem ser eliminados os ruídos;
  • Durante a noite, os pais devem alimentar o bebé no quarto, com uma pequena luz de presença, com o mínimo de ruídos e estímulos possível.

Deitar acordado:

  • Colocar o RN no berço antes de ele adormecer, pois isto vai fazer com que este mais facilmente entenda que dormir é algo que ele próprio, e não os pais, têm o poder de fazer acontecer;
  • O RN não deve ser colocado no berço se este estiver demasiado excitado ou se ainda não tiver chegado a hora de dormir;
  • Nas primeiras semanas, esta estratégia nem sempre será conseguida com sucesso.

Relaxamento

Massagem:

  • Bebés que recebem uma boa massagem antes de ir para a cama dormem melhor;
  • Também apresentam menores níveis de cortisol e, por outro lado, maiores níveis de melatonina;

Banho:

  • Poderá ser relaxante para alguns bebés e, por isso, este deverá ser dado no final do dia;
  • Para outros poderá ter um efeito estimulante e, nestes casos, deverá ocorrer no início do dia.

Não amamentar até dormir:

  • A amamentação tem múltiplos benefícios tanto para a criança como para a mãe, mas é essencial não permitir que o bebé adormeça aquando da amamentação ou alimentação por biberão;
  • O principal objetivo é alimentar corretamente o bebé e para tal, é necessário que este esteja acordado;
  • Os pais devem despertar o RN caso este pareça estar a adormecer;
  • Se o RN não acordar mesmo depois das estratégias de estimulação, o melhor é deitá-lo no berço.

“Leite dos sonhos”:

  • Oferecer o biberão ou a mama ao bebé quando o colocar na cama pelas 20 horas e posteriormente, entre as 22:30h e as 23:30h pegar nele de forma subtil e alimentá-lo novamente;
  • Permite fornecer ao RN as calorias extra que ele necessita para dormir melhor, além de que permite à mãe ou ao pai dormir durante mais algumas horas;
  • Se os pais verificarem que esta “ceia” desperta o bebé e que ele fica irritado ou que a noite começa a ser fracionada, o melhor será não aplicar esta estratégia;
  • Nas primeiras semanas, é aconselhável as mães amamentarem os seus filhos sempre que o RN quiser para que fique assegurada a produção de leite.

Utilizar uma envolta:

  • Embrulhar o RN numa manta de forma firme, para lhe dar a sensação à qual ele estava habituado quando ainda se encontrava no útero da mãe. Esta estratégia faz com que o bebé se sinta mais seguro e mais calmo;
  • Ter em atenção para não deixar o bebé demasiado quente;
  •  Depois interessa começar a libertar o bebé aos poucos, começando por um braço, de seguida outro e por aí em diante.

White noise:

  • O ruído emitido por um secador de cabelo ou por um aspirador ou exaustor de cozinha é algo que tranquiliza os bebés, por se assemelhar ao som que estes estavam habituados a ouvir dentro do útero da mãe;
  • O “Shhhhhhh” é também um método bastante eficaz para os acalmar quando realizado corretamente, ou seja, quando os pais o fizerem devem pronunciar um “Shhhhhhh” forte, seguro e alto.
Trabalho elaborado por:
Enfª ESMO Filipa Magalhães

 

Bibliografia
Almeida, Clementina. Socorro! O meu bebé não dorme. Porto: Porto Editora. 2017. ISBN: 978-972-0-70589-1.
CORDEIRO, Mário. O grande livro do bebé: o primeiro ano de vida. 9.ª ed. Lisboa: A Esfera dos Livros. 2013.
CORDEIRO, Mário. Dormir Tranquilo. 1ª ed. Lisboa: A Esfera dos Livros. 2010. ISBN 978-989-626-215-0.
ESTIVILL, Eduard; AVERBUCH, Mirta. Receitas para Dormir Bem: Ideias Práticas para um Sono Reparador. 1ª ed. Alfragide: lua de papel. 2008. ISBN 978-989-23-0198-3.
ESTIVILL, Eduard. O método estivill. 1ª ed. Alfragide: lua de papel. 2016. ISBN 978-989-233-601-5.
FERNANDES, Filipa Sommerfeldt. 10 dias para ensinar o seu filho a dormir. 2ª ed. Lisboa: A Esfera dos Livros. 2014. ISBN 978-989-626-598-4.

Ser avó

 

O nascimento de um bebé é habitualmente motivo de alegria para a família.

Os “nossos” então , vá-se lá saber porque mistério, são sempre especialmente mais bonitos, mais espertos, mais tudo em relação aos bebés em geral.

O amor instantâneo que sentimos faz-nos ver a realidade com lentes de aumentar.

Quando vi os meus netos gémeos pela primeira vez, duas horas depois de nascerem, a minha filha com ar cansado mas imensamente feliz, olhei para eles e parecia que já nos conhecíamos. Os olhos ficam húmidos sem darmos conta.

Não me vai ser possível ter com eles a proximidade que as minhas filhas tiveram com a avó, que esteve presente quase diariamente até saírem de casa e ganharem asas . O amor e atenção com que cresceram tem de ter contribuído para serem as pessoas realizadas e independentes de hoje.

O trabalho e a distância não me permitem estar presente fisicamente, embora tente visitar os meus netos com frequência . A pandemia que nos caiu em cima também me “roubou” tempo com eles que nunca irei recuperar, embora dê graças às novas tecnologias . Obrigada FaceTime.

É um privilégio e uma alegria ver os meus netos crescer, aprender coisas novas ,o entusiasmo com que vivem os dias, as primeiras vezes de tudo.

Só desejo que continuem a crescer felizes e saudáveis e que os avós possam assistir por muito tempo a esta aventura que é a vida.

PS: e se não for pedir muito, ter mais alguns .

 

Enf.ª Clara Montenegro
Enfermeira gestora do Serviço de Obstetrícia/Ginecologia

Viver o pós-parto

 

O nascimento configura um processo construído socialmente, moldado de acordo com os contextos históricos, sociais, culturais, políticos e económicos em que se insere, e que traduz e reflete um conjunto de sistemas de valores, representações e significados associados a esses contextos. Entre as diferentes fases do nascimento, o pós-parto trata-se daquela que recebe menos atenção, quer em termos de produção literária gerada acerca do mesmo, quer ao nível de discursos do senso comum, sendo muitas vezes as próprias mães que o experienciam, as primeiras a desvalorizar o mesmo e a focar todos os relatos após o momento do parto no bebé que dele nasceu.

No pós-parto, algumas mulheres preocupam-se com o retorno rápido do corpo ao que era antes da gravidez. Muito da expectativa de “voltar ao corpo” pré-gestação rapidamente é gerada pela exposição dos media, mostrando corpos “perfeitos” de artistas puérperas em capas de revista, que não representam a realidade da grande maioria das mulheres no pós-parto. O que deveria ser normalizado nas imagens é um corpo pós-parto em recuperação. A reorganização de cada órgão, a perda hemática, o inchaço sendo eliminado aos poucos, a permanência de uma “barriguinha” ou uma “barrigona”, a flacidez, etc.

O nascimento trata-se de um acontecimento que implica uma reorganização de todas as arenas da sua vida, desde a familiar à profissional, não apenas a nível funcional, mas também a nível de relação que a mulher tem consigo mesma, da relação com os outros e da perceção da própria existência, e das principais prioridades e preocupações que a marcam. Consequentemente, o nascimento vem implicar forçosamente a adaptação a uma nova realidade, novos contextos, novos papéis – e o pós-parto trata-se do período no qual as mulheres se deparam com a maior parte dessas mudanças, coincidindo com a entrada na nova maternidade.

Reconhecendo o pós-parto como um momento atravessado por um conjunto de mudanças profundas, concluímos também que este irá constituir uma fase de adaptação – adaptação não apenas à nova realidade criada por todas essas transformações, mas também e concomitantemente à adoção de um novo papel e de todas as expetativas e realidades que este implica.

A equipa Barriga e Rebentos,
Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do CHTS.
barrigaserebentos@chts.min-saude.pt

Bibliografia
Donnison, Jean (1977), Midwives and Medical Men – a history of the struggle for the control of childbirth, London, Historical Publications
Firoz, Tabassum et.al (2013), “Measuring maternal health: focus on maternal morbidity”, Bulletin of the World Health Organization, 91
Hogan, Susan (2017), “The tyranny of expectations of post-natal delight: gendered happiness”, Journal of Gender Studies, 26

Os sentidos do recém-nascido

 

Já imaginou como é que o seu bebé irá interagir consigo e com o meio envolvente?
Desde o nascimento, o bebé está dotado de um enorme potencial percecional e de sensações.
As primeiras experiências sensoriais ocorrem ainda no útero materno.

Posteriormente, cada um dos sentidos evolui ao seu ritmo, aperfeiçoando-se à medida que acompanha o desenvolvimento neurológico e a aquisição de novas competências, tornando-se este processo mais rico ainda com as experiências afetivas e sensoriais que ele experimenta com os seus pais e com o mundo ao seu redor.

 

Visão

 

Na sexta semana de gestação já começam a diferenciar-se as estruturas que darão origem aos olhos, mas só à 26.ª semana de gestação, quando tem os olhos abertos, é que o bebé consegue perceber a luz.
Assim, a visão é o sentido menos desenvolvido à nascença, pela pouca estimulação recebida no útero e, porque a sua maturação depende da interação com o meio externo.

Aquando do nascimento, as pupilas do recém-nascido são reativas à luz e o reflexo de pestanejo é facilmente observável.
A discriminação de cores desenvolve-se gradualmente ao longo de alguns meses. Inicialmente, o recém-nascido vê distintamente imagens de alto contraste (vermelho, azul, amarelo, preto e branco) e formas redondas. Por volta das oito semanas, a maioria dos bebés possui uma melhor perceção das cores, altura em que é observada uma atração por objetos vermelhos.

O recém-nascido tem a capacidade de, por momentos, fixar e/ou seguir com o olhar objetos ou pessoas em movimento, podendo mesmo virar a cabeça, isto a cerca de 20-30 cm de distância, o que corresponde à distância entre a face do bebé e da mãe durante a amamentação, denotando-se a capacidade de discriminação visual e preferência pela face humana. O bebé, rapidamente, reconhece os rostos dos seus cuidadores. Aos 10 dias é capaz de distinguir o rosto da mãe do rosto de outra mulher e, aos 14 dias, o rosto do pai do rosto de outro homem.

Pegar ao colo e embalar provoca uma reação reflexa que consiste no abrir dos olhos e na atenção a um estímulo visual, tal como ocorre durante a amamentação, momento privilegiado para visualizar o rosto materno e as suas expressões faciais, promovendo-se a interação e vinculação mãe-filho.
O estado de alerta mais prolongado parece ser produzido pela posição quase vertical, sendo que este abre os olhos, pronto a comunicar.

 

Audição

 

Tal como acontece com a visão, na sexta semana de gestação começam a diferenciar-se as estruturas que darão origem aos ouvidos. Estas, tornam-se funcionais por volta da 26.ª semana de gestação, pelo que o feto é capaz de reconhecer e distinguir os sons, podendo mesmo esboçar reações de sobressalto a ruídos intensos externos por volta da 30.ª semana de gestação. Deste modo, consegue demonstrar agrado ou descontentamento em relação a uma determinada frequência sonora (variação da frequência cardíaca fetal ou dos seus movimentos).

À nascença, os bebés possuem uma capacidade auditiva semelhante à do adulto. No entanto, apresenta fragilidade perante sons demasiado altos, podendo mesmo a membrana timpânica, que no recém-nascido é muito superficial, ficar lesada quando exposto a uma situação dessas.

Os recém-nascidos apresentam maior resposta à voz humana, principalmente a feminina, preferindo as sonoridades agudas, em particular a da mãe, aliás, o som da voz da mãe é-lhe tão familiar que é capaz de a identificar, distinguindo-a de qualquer outro som ou voz logo a partir dos dois dias de vida. Aos 14 dias diferencia a voz do pai da de outro homem e encontra-se, igualmente, habilitado para reconhecer outros sons típicos como, por exemplo, a voz de um irmão ou animal de estimação da casa, não estranhando esses sons quando nasce.

Aquando de um estímulo sonoro, o recém-nascido move os olhos e, por vezes, a cabeça em direção à fonte sonora. Falar com o bebé quando este se encontra mais ativo para interagir é um momento fundamental na relação pais-filho, uma vez que, ouvir a voz dos seus pais permite acalmá-lo, promove a comunicação e incentiva respostas vocais, desenvolvendo as capacidades linguísticas da criança. Devemos, contudo, privilegiar conversar com eles individualmente e em ambientes livres de poluição sonora, pois estes têm mais dificuldade em distinguir a fala do ruído de fundo.

 

Olfato

 

O sentido do olfato começa a diferenciar-se na sétima semana de gestação e, às 22 semanas de gestação, já se apresenta maduro.
Ao nascimento, o sistema olfativo já se encontra bem desenvolvido, reagindo de forma semelhante ao adulto na presença de odores fortes ou agradáveis.
O recém-nascido de termo possui, inclusive, discriminação olfativa para o odor materno e odor do leite materno, ou seja, preferem o cheiro da própria mãe reconhecendo que o mesmo o acalma e conforta. Esta é uma capacidade orientadora para a amamentação. Quando tem necessidade de se alimentar, o bebé procura encontrar o mamilo da mãe através do cheiro. A capacidade de reconhecimento do cheiro da mãe é um fator importante e facilitador da interação mãe-filho.

Aos seis dias, as crianças amamentadas são capazes de distinguir a própria mãe de outras lactantes pelo cheiro.
Os recém-nascidos são atraídos pelos odores doces e reagem com repulsa a odores fortes como o álcool ou o vinagre. Neste sentido, os odores podem influenciar o processo de vinculação e de amamentação.
Os odores permitem despertar emoções com maior rapidez que qualquer outro sentido, já que o olfato possui conexões diretas ao centro das emoções do cérebro.

 

Paladar

 

Por volta da 12.ª semana de gestação o feto começa a deglutir e, à 22.ª semana de gestação, já consegue distinguir diferentes paladares, tornando-se o sentido mais apurado à nascença.
Através da ingestão do líquido amniótico, que transporta aromatizantes característicos da alimentação materna, o feto experimenta as diferentes sensações gustativas.

O mesmo acontece através do leite materno, sendo o sabor deste também influenciado pela alimentação.
O recém-nascido consegue, assim, identificar os quatro sabores básicos – doce, azedo, amargo e salgado -, apresentado respostas diferenciais, como: ritmo cardíaco, ritmo de sucção, movimentos bucais e mímicas faciais – privilegiando um sabor agradável de outro desagradável como o doce – leite materno e soluções glicosadas, por exemplo.
Os sabores doces ajudam-no a permanecer no estado ideal de interação, encorajando-o a levar as mãos à boca, sendo esta estratégia considerada auto calmante.

 

Tato

 

O tato é o primeiro e mais importante sistema sensorial de comunicação entre filho e pais, sendo o toque um poderoso sinal social e emocional.

À semelhança dos outros sentidos, os bebés experimentam a sensação do toque muito antes de nascerem, através da vivência das sensações que as movimentações do líquido amniótico proporcionam, do toque da mãe a massajar a barriga ou as variações de pressões que as contrações uterinas geram, por exemplo.
Eles próprios envolvem-se em muito auto toque, especialmente durante o terceiro  trimestre, quando a sua pele se torna mais sensível à estimulação, aprendendo a conhecer-se e a confortar-se, brincando com as mãos no rosto, boca, e cordão umbilical.

Ao nascer com o sentido do tato bem aprimorado, o recém-nascido apresenta já uma grande sensibilidade e capacidade de distinção para variações de temperatura, humidade, texturas e sensações como pressão e dor.
Estes reagem ao toque em todas as partes do corpo, mas de forma especial na face sendo que as áreas mais sensíveis são a boca, mãos e pés.

Sabe-se que os bebés são confortados pelo toque. O contato afetuoso pele a pele pode acalmar os recém-nascidos com dor e reduzir os níveis de stress, protegendo-os de desenvolver um sistema anormal de resposta ao stress. Um estímulo táctil lento pode acalmá-lo quando está agitado, enquanto um estímulo forte e rápido pode levá-lo a ficar em estado de alerta.

Os recém-nascidos percebem como os tocamos e ficam chateados quando fazemos isso da maneira que ele menos gosta. É importante que os pais prestem atenção e aprendam a conhecer os sinais do seu bebé, fornecendo-lhe o tipo de toque que ele acha agradável ou reconfortante.

Os bebés usam ainda o sentido do tato para ajudar a dar sentido às informações visuais. Quando um bebé toca o rosto de alguém ou algum objeto, ele está a aprender a reconhecê-lo visualmente, inferindo a sua aparência apenas pelo toque.

Pegar o bebé ao colo, tocar no seu corpo, embalá-lo, massajá-lo, são estímulos fundamentais para conhecer, interagir, acalmar ou estimular o bebé, estando ligados ao seu desenvolvimento emocional. Desta forma, torna-se importante para o desenvolvimento do recém-nascido que os pais saibam regular o seu mundo tátil até ele ser capaz de o fazer sozinho.

Nunca é “cedo de mais” para começar a relacionar-se com seu bebé!
A interação pais-filho é motivada pelos cinco sentidos do recém-nascido, quando bem compreendidos e explorados pelos pais, promovendo a vinculação e a ligação.

Enf.ª Filipa Magalhães, da equipa Barrigas e Rebentos com a colaboração de:
Enf.ª Ana Filipa, do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do CHTS.

 

Referências bibliográficas:

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O Desafio: Conjugalidade VS Parentalidade

 

O nascimento de uma criança é um marco na vida de qualquer mãe e de qualquer pai, uma fonte de alegria e de amor. Todavia é, igualmente, um momento de adaptação para um novo “eu”: o de “mãe” e de “pai”, mas também de “ companheira/esposa” e “companheiro/marido”. De facto, o surgir de um novo ser vem incutir alterações na dinâmica familiar, e à conjugalidade dos casais.

A conjugalidade remete-se à díade conjugal e estabelece um espaço de apoio ao desenvolvimento familiar. Por sinal, é na formação do casal que todo o processo se inicia: quando duas pessoas se comprometem com uma relação estável e duradoura, reciprocamente vão se completando e adaptando, de modo a constituir um modelo de funcionamento conjugal. O casal vai, assim, negociar a vivência a dois, implicando decidir sobre um quotidiano em comum, uma análise simbiótica entre ganhos e perdas.

Como se sabe, o nascimento de um filho conduz a grandes mudanças e adaptações a novos papeis, com aumento da responsabilidades e alterações de rotinas, o que se traduz num impacto considerável na vida pessoal e familiar dos novos pais. Efetivamente, com a vinda de um bebé, as rotinas quotidianas da família alteram-se totalmente, os pais têm de se adaptar às necessidades do bebé, e tendem a centrarem-se unicamente neste novo papel. Parte deste impacto cresce do conceito idealizado por alguns casais, que acreditam que a parentalidade é algo inato ou instintivo, no entanto, é um desafio preenchido de incertezas, dúvidas e receios, que necessita de crescimento e desenvolvimento.

São diversos os estudos que nos indicam que a parentalidade como um período crítico para a satisfação conjugal. Alguns estudos recentes têm enfatizado que a transição para a parentalidade causa uma diminuição na satisfação conjugal. Quando analisamos a tendência sobre as causas de insatisfação, percebemos que se remete a colisões de ideias culturais, educacionais, mas sobretudo, à perceção de incapacidade no desempenho da sua paternidade e/ou maternidade por um dos elementos do casal.

Compreende-se que o processo de ser mãe apresentava um peso significativo na mulher, sobretudo com a perspetiva que a sociedade lhe dá ou dava. Por sinal, se o homem/pai fica alheio da experiência da gravidez e, se antigamente, protelava/delegava a educação das crianças à mulher, hoje existe um verdadeiro trabalho de equipa entre os progenitores. Vemos atualmente o caminhar da sociedade para a vivência de todas as experiências e emoções da parentalidade a dois: uma parceria parental!

A parceria parental é, em boa verdade, um trabalho de equipa. Todavia, uma tarefa complexa e interpessoal em que o casal partilha responsabilidades parentais. Tal como uma equipa num desporto (como o futebol): onde o todo e o individual são de extrema importância, todos têm um papel importante a desempenhar, mas, em equipa é mais fácil de concretizar.

Exercer esta parentalidade conjunta é indispensável para o relacionamento em si e para a parceria parental, apresente-se ela nos modos tradicionais ou nas mais variadas configurações que a sociedade nos possa apresentar.

Compreenda-se então, que nesta fase o principal desafio para o casal é conseguir articular a conjugalidade com a parentalidade.

Trabalhar em equipa não é tarefa fácil! Por sinal, bastante difícil! Não existem receitas pré-determinadas, senão todas as equipas eram vencedoras num mesmo campeonato! Todavia, existem alguns consensos úteis:

Urge o conhecimento sobre o eu e sobre a pessoa que se encontra ao lado a partilhar esta parentalidade, deve haver respeito sobre si mesmo e pelo outro companheiro(a).

A comunicação é basal! É necessário sentar à mesa e discutir um “plano estratégico”, discutir dificuldades e, o mais importante, encontrar soluções em conjunto que sejam viáveis para cada elemento e para o casal como um só.

No seu momento de ser pais e casal, uma mãe não deixa de ser mulher; um pai de ser homem, e os pais de serem casal!

Deve haver tempo e espaço para o “eu”, o “tu” e o “nós”.

Procurem ajuda, partilhem a responsabilidade com outros elementos da família: avós, tios, padrinhos, amigos…

Será a utilização sábia dessa dinâmica, na vida conjugal e parental, que moldará o seu êxito…(Sousa, 2006).

Lembrem-se, ser mãe e ser pai não destitui ser mulher e homem! Cada um na sua individualidade, conjugalidade e parentalidade!

A Enfª Filipa Ramos,
Da equipa Barrigas e Rebentos.
Referências:
Sousa, J. (2006). As famílias como projectos de vida: O desenvolvimento de competências resilientes na conjugalidade e na parentalidade. Saber (e) Educar 11, 41– 47.
Bouchard, G., Boudreau, J.B., & Hébert, R. (2006). Transition to Parenthood and Conjugal Life. Journal of Family Issues, 27, 1512 – 1531.
Ribeiro, Marina Ferreira da Rosa. (2016). Reflexões sobre conjugabilidade e parentalidade: Um caleidoscópio de constituições familiares. Jornal de Psicanálise, 49(91), 97-109. Recuperado em 10 de outubro de 2021, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352016000200010&lng=pt&tlng=.

Nasceu um pai

 

“Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem”

José Saramago

O nascimento de um filho é um acontecimento marcante na vida dos casais, um evento exigente e complexo para o qual é necessária disponibilidade de tempo e recursos, planeamento e dedicação.

A chegada de um filho não deverá ser apenas um projeto “na” nossa vida, mas sim, um projeto “para” as nossas vidas.

Tornar-se mãe/pai, impõem um conjunto de transformações internas e externas, as quais têm início ainda na fase de pré conceção. Para que esta transição ocorra de uma forma saudável, os futuros pais, esta nova família, necessitam não só de desenvolver conhecimentos e munir-se capacidades (inerentes aos cuidados ao seu filho, por exemplo), mas também, de iniciar um processo de reorganização individual, conjugal e profissional.

É culturalmente aceite que durante a gravidez o foco de atenção se centre na mulher e, posteriormente no pós-parto, passe para o recém-nascido. Mas e o PAI?

Apesar deste não poder experienciar as alterações fisiológicas decorrentes da gravidez como a mulher, no plano emocional, o pai pode sentir-se em tudo semelhante à mãe.

Ao planearem uma gravidez, ou mesmo perante a notícia da mesma, o homem vivência um misto de sentimentos e emoções. Pode se sentir alegre, realizado, assustado, preocupado e entusiasmado, ou até tudo em simultâneo. Com o conhecimento de que vai ser pai – sobretudo se for o primeiro, é muito provável que o pai se encontre dividido entre a dúvida e a excitação.

O nascimento de um filho, sendo ele planeado ou não, leva a que o homem, que se está a tornar PAI, se depare com uma série de imposições e incerteza que o farão reformular a sua forma de ser enquanto filho, marido, etc, que o incitam na construção do novo papel que irá desempenhar, o de PAI. Também, este vai criando expectativas relativamente à gravidez, ao bebé, ao estilo de vida que passará a ter depois do nascimento e do regresso a casa. E, neste processo intenso e nutrido de incertezas, também o pai se pode sentir perdido.

Por outro lado, é importante a compreensão da participação e envolvimento da mãe neste processo. A existência de uma relação de solidariedade, entreajuda e reconforto psicológico, beneficia a relação do casal, e é um determinante para a qualidade da interação da díade pai/filho.

Temos vindo a observar a mudança daquilo que se considera ser “o pai” na sociedade. Uma redefinição do olhar sobre as dimensões biológica, social e psicológica da paternidade onde surge a imagem de um PAI sensível, ativo e envolvido nos processos de família. Atualmente, estamos perante um PAI presente e participativo, desde o acompanhamento à mulher nas consultas pré concecionais, na vigilância no pré-natal (consultas, exames etc.), como também na preparação para o parto e parentalidade e posteriormente na prestação ativa nos cuidados ao filho.

Por outro lado, é sabido hoje, que o PAI apresenta um papel preponderante no desenvolvimento físico e cognitivo dos seus filhos.

Este é uma referência na vida do seu filho e, é de extrema importância que se promova de forma efetiva a ligação e o contacto PAI-filho e o seu envolvimento nos seus cuidados desde os primeiros tempos de vida, permitindo assim um exercício pleno da paternidade.

Compreende-se assim, que a figura paterna representa não só segurança, responsabilidade, realidade, autoridade, disciplina e brincadeira, como a disponibilidade e afeto, adaptando-se a diferentes papéis e funções dentro da família.

Ser PAI, é um processo de aprendizagem e construção, que se desenvolve com o tempo. O homem não nasce pai, ele torna-se pai!

Feliz Dia do Pai!

A equipa Barriga e Rebentos,
Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do CHTS.
barrigaserebentos@chts.min-saude.pt

Higienização nasal no recém-nascido

 

As afeções respiratórias são algo frequentes e recorrentes na vida das nossas crianças.

No inverno, principalmente, surgem as gripes e as constipações, e com elas, a congestão e a obstrução nasal.

A lavagem nasal com soro fisiológico tem se revelado uma das medidas mais eficazes e uma das melhores práticas na gestão das mesmas, apresentando como principal objetivo o alívio dos sintomas e a prevenção de possíveis complicações.

A higiene nasal torna-se especialmente importante nos recém-nascidos e em bebés até aos 6 meses de idade, uma vez que eles respiram preferencialmente através do nariz e não conseguem assoar-se sozinhos, ficando com as fossas nasais obstruídas, o que dificulta a sua respiração, o seu bem-estar geral e o dos pais.

É importante os pais estarem atentos ao comportamento do seu bebé, pois períodos de prostração ou de irritabilidade, diminuição do apetite ou dificuldades no aleitamento, bem como dificuldades ou alterações do padrão de sono estão muitas vezes relacionados com a dificuldade respiratória.

A lavagem nasal é recomendada na maioria dos casos de congestão ou obstrução nasal em recém-nascidos, bebés e crianças, também pela sua eficácia, facilidade de aplicação, tolerabilidade e escassez de medicamentos alternativos em crianças menores de 6 meses.

Pode ser realizada todas as vezes que sentir que o seu bebé tem necessidade ao longo do dia, privilegiando a sua realização antes das refeições e antes dos períodos de sono.

Há estudos que mostram que a limpeza feita, pelo menos, duas vezes ao dia é capaz de reduzir até 40 por cento da incidência de gripes e constipações.

É importante familiarizar o bebé desde cedo com esta prática e introduzi-la na sua rotina diária. Após o banho, por exemplo, poderá ser a altura ideal para introduzir este cuidado, pois, geralmente, os bebés estão mais relaxados e tranquilos, eliminando dessa forma o excesso de secreções nasais, principalmente nos meses em que as infeções respiratórias são mais frequentes.

Para isso vai necessitar de:

  • Soro fisiológico (à temperatura ambiente ou ligeiramente aquecido – maior tolerância do bebé e menor irritabilidade da mucosa nasal);
  • Seringa de uso individual;
  • Adaptador de seringa (não é imperativo adquiri-lo)
  • Toalha de rosto / manta / fralda de pano (usados para envolver o bebé, de forma a mantê-lo mais contido e seguro).
  • No caso dos recém-nascidos a forma ideal de fazer a higienização é:
  • Deitado de barriga para cima;
  • Coloque a cabeça do bebé apoiada, ligeiramente, para trás e rodada;
  • Coloque o soro fisiológico na narina do lado para o qual a cabeça do bebé está rodada;
  • Repita este processo na outra narina, rodando a cabeça do bebé para esse lado.

A instilação do soro deve ser feita de uma forma gradual e contínua, observando-se a sua saída pela narina contrária, permitindo uma limpeza por arraste do muco, onde poderão estar alojadas impurezas, vírus ou até mesmo bactérias.

A quantidade de soro fisiológico a instilar até ao primeiro ano de idade pode ser até 5 ml.

Após a irrigação nasal com soro fisiológico, se necessário, pode ainda aplicar uma aspiração suave com recurso aos dispositivos de aspiração disponíveis no mercado para esse fim.

Outra forma prática de limpar o nariz das crianças são os sprays nasais, sendo que estes, apesar de mais funcionais por serem anatómicos e fáceis de usar, mecanicamente, não são tão eficazes como a lavagem por meio de uma seringa.

Qualquer um destes procedimentos pode ajudar a prevenir estas situações e podem ser feitos em casa pelos pais.

 

Bibliografia:

1. https://abope.org.br/obstrucao-nasal-no-recem-nascido/ (acedido em 18/01/2022).

2. http://criancaefamilia.spp.pt/doencas-comuns-e-outros-problemas/constipação.aspx (acedido em 22/01/2022).

Trabalho elaborado por:

Enfª ESMO Filipa Magalhães

A Equipa Barrigas e Rebentos

Cuidados à pele: Fralda

 

O cuidado suave da pele do recém-nascido auxilia a sua função barreira e maturação contínua.

À semelhança de um adulto, no recém-nascido (RN), a pele apresenta função de barreira contra infeções, toxinas, radiação UV, perda de água transepidermal, e função termorreguladora. Todavia, esta barreira de epiderme no RN encontra-se menos desenvolvida do que no adulto, sendo que se estima que o seu total desenvolvimento/competência se dê ao final de um ano de vida, o que enfatiza a importância de uma rotina de cuidados apropriada, no sentido, de a manter saudável durante este período.

Por outro lado, no recém-nascido, a perda de água e consequente desidratação da pele, assim como, risco de irritabilidade e infeção da mesma encontram-se potenciados por se estimar que a epiderme e estrato córneo sejam 20 a 30% respetivamente, mais finos que a de um adulto. A limpeza da pele é um cuidado essencial em todos os bebés. Existe, hoje, a determinação de que uma rotina de cuidado à pele inadequada altera o balanço genético-ambiental transformando uma epiderme saudável numa barreira disfuncional e debilitada, podendo originar condições como a dermatite atópica.

Recomenda-se que o primeiro banho aconteça entre as 12-24h após nascimento, para prevenir a hipotermia e a manutenção da camada de vernix, essencial para a manutenção do manto acido da pele do recém-nascido. Relativamente à frequência, aconselha-se a que esta corresponda às necessidades, ao efeito no recém-nascido e aos valores parentais, tendo, contudo, por base a importância da preservação do microbioma da pele, não sendo, por isso, necessário mais de 2/3 banhos por semana. A zona da fralda deve ser lavada diariamente.

No que concerne ao uso de produtos de higiene, deve-se dar preferência aqueles que sejam de consistência líquida, suave, sem sabão, sem perfume, sem álcool, sem parabenos e com pH neutro ou ligeiramente acido, podendo ainda ser efetuado apenas com água. Esta decisão fica ao critério dos pais, já que do ponto de visto científico não existe diferenças entre o uso de produtos (com as características supracitadas) e a água.

O uso por rotina, desde o nascimento, de emolientes na pele contribui para a hidratação do estrato córneo, potenciando a função barreira, prevenindo a dermatite atópica. Os emolientes devem ser da mesma gama comercial, caso se tenha elegido um produto de limpeza, de preferência sem fragância. Estes devem ser aplicados numa camada fina sobre a pele, evitando as mãos e olhos, 2 a 3 vezes por semana, após o banho ou diariamente se pele com tendência atópica.

A zona da fralda deve manter-se seca já que o excesso de humidade leva a fricção originando maceração da pele, aumentando por sua vez, a sua permeabilidade e, então, o crescimento bacteriano. É recomendado trocar fraldas com frequência, usar fraldas superabsorventes e respiráveis, limpar suavemente a zona da fralda com toalhetes apropriados ou compressas de tecido com água e aplicar emolientes protetores. Os toalhetes devem conter soluções tampão para manter a ligeira acidez da pele e estarem livres de potenciais irritantes, como: álcool, fragrâncias, óleos essenciais, sabão, surfactantes e detergentes agressivos. Se sinais de irritação na zona da fralda, aplicar uma camada fina de emoliente e/ou creme barreira à base de óxido de zinco, vitamina A e vitamina D.

Texto elaborado por:
Equipa de Barrigas e Rebentos com colaboração da Enfª Isabel Coelho e Enfª Verónica Barbosa
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Johnson, E., & Hunt, R. (2019). Infant skin care: Updates and recommendations.

Tornar-se Mãe

 

A maternidade é um momento único na vida da mulher, que passa a assumir, a incorporar, a integrar um novo papel, o de Mãe.
Mãe (também chamada de progenitora ou genitora) é o ser do sexo feminino que gera uma vida em seu útero como consequência de fertilização ou que adota uma criança ou filho, que por alguma razão não pode ficar com os seus pais.

Com a chegada de um filho e, consequentemente,  a transição para a parentalidade, ocorre um conjunto de transformações, nomeadamente, a nível biológico, psicológico e emocional, que  levam à alteração da identidade da mulher de forma irreversível.

Depois do nascimento de um filho, a vida de uma  mulher nunca mais é a mesma, esta marca um ponto de viragem, ela passa a ser responsável por si mesma e por um ser que identifica como ser vulnerável, o seu filho/filha.

Esta fase faz com que, por vezes, se anule enquanto mulher, enquanto pessoa e direcione toda a sua energia, a sua ação para cuidar do seu filho/filha quase de forma exclusiva e momentos rotineiros como autocuidar-se, alimentar-se tornam-se momentos difíceis de integrar no seu dia-a-dia.

A mulher, agora mãe, vivencia uma fase de grande sensibilidade, vulnerabilidade, ansiedade e preocupação, ou seja, ocorrem diversas mudanças, nomeadamente, a nível social, a nível profissional. Essas mudanças podem interferir na sua auto-estima e alterar toda a sua dinâmica diária, atividades com o autocuidado, o descanso/lazer podem estar alteradas, ou seja, a mãe deixa de ter tempo para tratar de si.

O próprio casamento/relacionamento sofre alterações/ ajustes, mas é importante manter os momentos íntimos, de romance, de namoro, assim como momentos de individualidade, pelo que é importante o diálogo de forma a que cada um desempenhe o seu papel. O de mãe, o de pai, de forma individualizada e não de forma exclusiva.

Assim é importante que as mães sejam capazes de pedir ajuda e não adotem uma atitude altruísta, a mulher não deixa de ser mulher, não deixa de ser esposa, não deixa de ser alguém único.

A mãe assume um dos mais exigentes e complexos papéis no seio familiar, que se evidencia essencial para assegurar a sobrevivência, a segurança e o bem-estar do seu filho. Ser Mãe é amor, é afeto, é carinho, é proteção.

A Mãe é a referência, o porto de abrigo, a ligação mãe-filho é uma ligação que não se extingue quando se corta o cordão umbilical, ela intensifica-se a cada dia, o que faz do papel de mãe um dos papéis mais sensíveis da existência da vida da mulher.

É o Amor que nos torna Mãe.

Enf.ª Ângela Queirós, Enf.ª Diana Leite, Enf.ª Fátima Rocha, Enf.ª Helena Barros, Enf.ª Raquel Silva, Enf.ª Tânia santos

Serviço de Obstetrícia
Em colaboração com o projeto Barrigas e Rebentos.

Referências:

• Teixeira, R.,et al. (2015). Necessidades de asistencia em salud a mujeresen el post parto. Escola Anna Nery, 19 (4), doi:10.5935/1414- 8145.20150083;
World Health Organization (2018) WHO recommendations:intrapartum care for a positive childbirth experience.

Aparência esperada e achados normais no recém-nascido

 

Já imaginou como será o seu bebé quando nascer?

 

À medida que a gravidez se desenvolve também na mãe e no pai se vão formando ideias e criando fantasias sobre o seu filho, construindo-se uma imagem do bebé esperado. Contudo, ao nascer, o bebé real pode não corresponder totalmente ao bebé imaginado, não só no que diz respeito aos traços genéticos, mas na sua apresentação.

Muitas são as dúvidas que surgem entre os pais nos primeiros dias de vida dos filhos, alterações fisiológicas que, quando não conhecidas, podem gerar uma série de preocupações. Aqui iremos abordar algumas das alterações fisiológicas e transitórias do recém-nascido mais comuns.

 

Alterações fisiológicas e transitórias do recém-nascido mais comuns

 

Cabeça

Esta é moldável e por isso o formato da cabeça pode ser assimétrico (influenciado pela posição que o bebé tinha dentro do útero ou pela acomodação ao trajeto do canal de parto) e reverte em média 24-48h após o nascimento.

Pode notar-se a pequena fontanela e grande fontanela (conhecida moleirinha).

 

Olhos

Edema (inchaço) palpebral.
Olhar aparentemente estrábico.

 

Nariz

O recém-nascido usa o espirro para desobstruir o nariz.

 

Pele

A textura da pele depende muito da idade gestacional. O recém-nascido pré-termo (prematuro) extremo possui pele muito fina e gelatinosa, o recém-nascido a termo tem pele lisa, brilhante, húmida e fina, e o recém-nascido pós- termo ou com insuficiência placentária, pele seca, enrugada, apergaminhada e com descamação acentuada.

  • Lanugo – penugem sobretudo na parte superior das costas
  • Vérnix caseosa – um material gorduroso branco que pode estar presente sob a forma de uma camada muito fina ou muito espessa e em especial nas zonas de pregas cutâneas

 

Genitais

É normal encontrarem-se mais edemaciados (inchados) e no caso das meninas:

  • Corrimento esbranquiçado
  • Pseudo-menstruação

 

Outras curiosidades

 

Fenómenos vasculares:

  • Acrocianose – coloração arroxeada das extremidades, mãos e pés – transitório;
  • Rubor (vermelhidão) generalizado (Pletórico) – transitório;
  • Cútis marmorata fisiológica – transitório;
  • Manchas salmão / Picadas de cegonha / Beijo de anjo– manchas de tom rosáceo que podem aparecer no nariz, pálpebras ou nuca que desaparecem habitualmente em um a dois anos.

Alterações da pigmentação:

  • Manchas mongólicas – manchas na parte inferior das costas e nádegas de cor azulada que pode permanecer até aos 2 anos de idade;
  • Hiperpigmentação epidérmica transitória, nomeadamente dos órgãos genitais externos.

Alterações das mucosas:

  • Pérolas de epstein – quistos epidérmicos gengivais e palatinos puntiformes de cor branca.
  • Alterações hormonais:
  • Acne neonatal;
  • Ginecomastia / Ingurgitamento mamário neonatal.

Alterações transitórias do recém-nascido:

  • Milia – pequenos pontos brancos provocados pela obstrução das glândulas sebáceas que desaparecem espontaneamente em pouco tempo;
  • Eritema tóxico do recém-nascido – manchas avermelhadas dispersas no corpo do bebé que aparece nos primeiros dias de vida sob a forma de lesões eritematosas multiformes (pápulas, máculas e até algumas vesículas);
  • Icterícia.

As pernas podem parecer arqueadas.

Cuidar do Coto Umbilical

Após o nascimento do seu bebé o cordão umbilical é clampado, interrompendo-se a passagem de sangue, sendo posteriormente cortado. O cordão que se mantém preso ao recém-nascido denomina-se, então, de coto umbilical.

Inicialmente, este tem um aspeto gelatinoso e branco, depois, cerca do segundo ou terceiro dia de vida verifica-se o começo do seu processo natural de mumificação – escurecendo, passando de amarelo a castanho escuro ou preto e, torna-se seco, ficando com uma consistência endurecida. Por fim separar-se-á do recém-nascido.

Esta queda ocorre espontaneamente entre o 4º e o 15º dia de vida, podendo, contudo, em alguns casos permanecer por três semanas.

Enquanto o coto umbilical não cai, é importante assegurar a sua higienização diária e cuidada, assim como da região circundante, mantendo-o limpo e seco por forma a evitar o desenvolvimento de infeções e beneficiar a sua rápida cicatrização.

Para os pais cuidar do coto umbilical é, muitas vezes, motivo de ansiedade essencialmente por receio de magoar o recém-nascido, mas, para outros também pela aversão à sua consistência.

Este procedimento não é doloroso nem desconfortável para o bebé pelo que não há motivo para ter receio de mexer. Trata-se de tecido morto onde não existem terminações nervosas.

Para aplicar o método dry care amplamente recomendado pela Organização Mundial de Saúde nos cuidados ao coto umbilical (mantê-lo limpo e seco, sem a aplicação de qualquer soluto) deve seguir os seguintes passos:

  • Realizar a higienização correta das suas mãos com água e sabão;
  • Realizar a limpeza do local de inserção e do coto umbilical com água tépida e sabão suave, não perfumado, e com pH neutro 1x/dia, durante o banho por exemplo, sempre que se justifique ou, quando em contacto com urina e/ou fezes – esta deve ser realizada no sentido da pele/base para o clamp/mola e só depois a mola, evitando que a mesma parte da compressa seja usada duas vezes;
  • Secar bem o coto umbilical com compressas esterilizadas ou uma toalha limpa igualmente no sentido da base para a periferia, após o banho ou limpeza;
  • Não coloque emolientes (hidratantes) no coto umbilical nem na sua base de inserção;
  • Dobrar a fralda abaixo do coto umbilical e manter o coto umbilical seco e exposto ao ar, ou livremente coberto com roupas limpas;
  • Não use faixas, ligaduras ou qualquer outro tecido sobre o coto umbilical;
  • O bebé pode tomar banho antes de cair o coto, contudo a submersão do recém-nascido na água geralmente não é recomendada até a queda do coto umbilical, reforçando que se tenham os cuidados necessários para não deixar húmido.

 

  • Após a queda do coto umbilical devem ser mantidos os mesmos cuidados à ferida umbilical até completa cicatrização.

 

Mantenha-se vigilante de todo o processo de mumificação, queda e evolução da cicatrização e se verificar a presença de algum destes sinais de alarme deve procurar com brevidade um profissional de saúde:

  • Vermelhidão, calor ou inchaço da pele em redor do umbigo;
  • Aparecimento de pus;
  • Odor desagradável;
  • Demora na sua cicatrização.

 

Bibliografia:

  1. WHO recommendations on newborn health: guidelines approved by the WHO Guidelines Review Committee. Geneva: World Health Organization; 2017 (WHO/MCA/17.07). Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.
  2. https://www.sns24.gov.pt/guia/guia-para-pais/

 

Trabalho elaborado por:

Enf.ª ESMO Filipa Magalhães

 

A Equipa Barrigas e Rebentos

A chegada do bebé a casa

 

A chegada de um filho provoca grandes alterações, quer a nível da rotina diária, quer até ao nível de afetos e o regresso a casa após o parto é um desafio.

Ao longo da gravidez é importante preparar este regresso a casa, antecipando algumas necessidades,de forma a evitar situações que acresçam mais tensão àquela que já é expectável nos primeiros dias, potenciando assim o ambiente calmo e seguro.

Posto isto, deixamos alguns conselhos para tornar esta mudança mais suave:

  • Deixar a casa limpa e organizada – desta forma é possível antever se falta algo e, assim, resolver atempadamente e com calma o que pode falhar. Por outro lado, uma casa limpa é importante para a saúde e bem-estar do bebé;
  • Fazer a lista de produtos essenciais e bens alimentares, tais como papel-higiénico, produtos de limpeza e higiene, fraldas, toalhetes, etc.e ir às compras antecipadamente;
  • O quarto do bebé: Relembramos que o quarto do recém-nascido deve ser bem ventilado, com janelas seguras  e afastadas da cama do bebé;
  • Se as paredes forem pintadas, devem ser com tinta não tóxica e lavável;
  • O chão deve ser antiderrapante e fácil de limpar, os tapetes são dispensáveis, mas,se colocados, devem estar fixos ao chão ou na mobília do quarto;
  • A temperatura ambiente do quarto deverá ser mantida entre os 20º/22º C;
  • Relativamente ao berço e/ou cama: Se berço e/ou cama, este deve ser estável e sólido, com grades que apresentem no mínimo 60 cm de altura e seis centímetros de distância entre elas e com fecho de segurança. O estrado deve ser plano, rígido e sem arestas cortantes ou saliências no interior e o colchão deve ser impermeável, firme e bem-adaptado ao tamanho da cama.Se alcofa, esta deve ter bordos altos e acolchoados, para evitar que a criança caia e se magoe, e um fundo rígido e plano;
  • A roupa da cama deve ser de algodão e feita “aos pés da cama”;
  • Os cuidados de roupa do recém-nascido: porque poderão estar expostas nas lojas (são tocadas por muita gente) todas elas, mantas e fraldas de algodão, inclusive, devem ser lavadas previamente num programa extra enxaguamento e com detergente específico para bebé. Se colocar a secar ao ar livre, deve-se de passar a ferro. Para além de lavar, deve-se cortar todas as etiquetas, para que estas não causem algum tipo de irritação na pele do bebé;
  • Outro aspeto importante a abordar no regresso a casa são as visitas. A predefinição, em casal, de horários e número de elementos na visita é preponderante para a sua organização, evitando assim aglomerados no mesmo horário e assegurando momentos de descanso individual e de casal /recém-nascido. Antecipadamente, conversar com os familiares e amigos expondo este ponto de vista. Visitas que possam estar adoentadas, devem ser evitadas. Ressalve-se que nesta fase pandémica, as visitas devem de ser interditas.

Sabemos a importância do animal de estimação enquanto elemento da família. Por conseguinte, torna-se igualmente importante preparar o amigo de quatro patas:

  • Este deve tomar banho e ter as vacinas e a desparasitação atualizadas;
  • Antes de apresentar o recém-nascido, levar uma fralda/roupa que tenha estado em contacto com o bebé, apresentá-la ao animal para que este sinta o cheiro e se acostume ao mesmo, de modo, a que não estranhe no dia que o conheça.
  • Nunca deixar o(s) animal(ais) sozinho(s) com a criança.

Chegar a casa com um filho nos braços implica novas rotinas, pelo que a comunicação e o trabalho em equipa eficaz entre o casal é basal.Se as responsabilidades forem repartidas, será mais fácil lidar com esta nova etapa.

Desejamos a todos um bom regresso a casa!

A equipa Barriga e Rebentos,
Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do CHTS.

barrigaserebentos@chts.min-saude.pt

Bibliografia:
Associação para a Promoção da Segurança Infantil. (2018).Disponível na internet em URL: https://www.apsi.org.pt/index.php/pt/.Lisboa
Cardoso, A. (2011). Tornar-se mãe, tornar-se pai – estudo sobre a avaliação das competências parentais. UniversidadeCatólica Portuguesa: Tese de Doutoramento;
OMS (2017) WHO recommendations on newborn health: guidelines approved. the WHO Guidelines Review Committee. Geneva: World Health Organization; (WHO/MCA/17.07). Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO

Comunicar com o bebé

 

A comunicação com os bebés, mais concretamente com os recém-nascidos, é, para os pais, nos primórdios do seu desempenho parental, um desafio.

Efetivamente, os bebés iniciam a expressão da sua comunicação mal nascem, através nomeadamente do som e de movimentos dos membros. A chave para a compreensão desta comunicação baseia-se na atenção que se presta ao bebé.

Então, como comunica o recém-nascido? Com o choro, com movimento dos membros, com expressões faciais e com o olhar.

O choro poderá ser, talvez, o meio mais conhecido e “percetível” de comunicação do bebé. Normalmente, quando o recém-nascido chora quer dizer que algo está errado e que precisa de alguma coisa: tem fome; sente desconforto com a fralda suja; sente calor ou frio ou tem dores. Sabe-se que cada choro tem um som próprio, e que a si se associa uma expressão facial e movimentos dos membros específicos. No primeiro mês de vida o recém-nascido chora sobretudo por:

  • Fome: som “neh”, um choro em soluços contínuos e curtos, persistente e não muito alto, acompanhado de movimentos da cabeça para os lados, boca entreaberta, em que o recém-nascido leva as mãos à boca;
  • Desconforto: som “heh”, um choro semelhante à dor, contudo, um choro mais fraco, consiste em gritos intermitentes, acompanhado da testa franzida e membros tensos;
  • Dor: som “Eairh”, como um lamento curto, agudo e muito alto. Surge com um período de apneia e seguido de outro grito. O rosto fecha-se e o bebé flete os membros para junto do corpo.

Mas, comunicarão os recém-nascidos apenas quando choram ou precisam de algo? A resposta a esta questão é simples: não.

Por exemplo, todos os pais, já deverão ter passado pela experiência de alimentar o seu recém-nascido, e reparado no olhar atento, intenso, fixo e profundo do seu filho, como se “preso” no olhar da mãe/pai aquando desse momento. Pode-se dizer que este olhar atento e fixo, presente na amamentação como em outros momentos, é um sinal de comunicação do bebé, tradutor de ligação, de relacionamento íntimo e de vinculação. Efetivamente, o olhar mostra-se como o primeiro sinal de comunicação do recém-nascido e tornar-se-á numa ferramenta vital da comunicação para toda a vida. No que toca ao conhecimento científico, a investigação tem vindo a comprovar que o contacto visual (o contacto com outro olhar humano) está associado ao desenvolvimento do processo neurológico, cognitivo e social do bebé.

Sendo a comunicação um processo que tem em si inerente um feedback (um retorno de resposta) é, de igual modo, importante que os pais comuniquem com o recém-nascido.

A audição do recém-nascido é sensível aos sons de curto alcance (200-500 hertz), sensivelmente semelhante ao alcance do registo mais alto da voz humana. Curiosamente, quase todos os pais falam com os seus filhos neste registo, mesmo sem se aperceberem. Tradicionalmente chama-se a esta tonalidade da linguagem de “motherese” em português “maternalês”, atualmente identificado como “discurso dirigido ao bebé”. Num tom agudo, prolonga-se as sílabas para melhor compreensão, numa expressão como “olááááaá bebééééé! És um bebé liiiindooo!”. Os investigadores perceberam que este “discurso dirigido ao bebé” é até duas oitavas acima da voz normal e que é feito num tom embalado e com ritmos de melodia, que chamam à atenção do recém-nascido, estimulando-o e potenciando o seu desenvolvimento cognitivo.

A investigação comprova que a comunicação entre os pais e o recém-nascido, como o contacto visual e o conversar, permite ao recém-nascido detetar e reconhecer a face e a respetiva voz dos seus progenitores, o que se traduz no desenvolvimento da ligação mãe/pai/filho e no desenvolvimento do processo neurológico e cognitivo da criança.

Curioso que, ainda em fase de gestação, o casal interage com afinco com o seu bebé (ainda que em estado fetal): têm conversas, tocam na barriga (numa tentativa de interação mais mecânica)… Mas, como por surpresa, após o bebé nascer por vezes ouve-se um silêncio e talvez um “shiuuu” pelo meio.

Por isto, aconselhamos os pais a estimular a comunicação e a interação com o seu bebé. A comunicação é um processo de feedback que implica resposta. Assim, respondam às necessidades do bebé, olhem, sorriam e falem com o bebé, estimulem-lhe os sentidos.

 

A equipa Barrigas e Rebentos, deseja a todos os pais e bebés excelentes momentos de interação e de longas conversas.

 

Enfª Filipa Ramos da equipa Barrigas e Rebentos com a colaboração de:

Enfª Ana Filipa do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do CHTS.

Referências:

Martins, R. 2015. O Corpo como Primeiro Espaço de Comunicação o Diálogo Tónico-Emocional no Nascimento da Vida Psíquica. Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE; Vol. 13, N.º 1;

P. G. Hepper, D. Scott & S. Shahidullah, 1993. Newborn and fetal response to maternal voice, Journal of Reproductive and Infant Psychology, 11:3, 147-153, DOI: 10.1080/02646839308403210;

Reynolds, A.M., Burton, S.L., 2017. Serve and return: Communication foundations for early childhood music policy stakeholders. Arts Education Policy Review 118, 140–153.. doi:10.1080/10632913.2016.1244779;

Rowe, M.L., 2008. Child-directed speech: relation to socioeconomic status, knowledge of child development and child vocabulary skill. Journal of Child Language 35, 185–205.. doi:10.1017/s0305000907008343;

Schwab, J.F., Lew-Williams, C., 2016. Language learning, socioeconomic status, and child-directed speech. WIREs Cognitive Science 7, 264–275.. doi:10.1002/wcs.1393

Senju, Atsushi and Johnson, Mark H., 2009. The eye contact effect: mechanisms and development. Trends in Cognitive Sciences 13 (3), pp.127-134. ISSN 1364-6613.

Chegou o Verão e agora?
Cuidados a ter nesta época do ano com o seu bebé

 

Exposição à radiação solar

 

O Sol contribui para a nossa saúde e aumento da sensação de bem-estar, contudo, é preciso ter alguns cuidados para escapar aos seus efeitos indesejáveis.

A intensidade com que este chega até nós é medida pelo índice de radiação ultravioleta, pelo que, antes de sairmos de casa devemos ter em atenção, não só à temperatura, mas também ao índice de radiação UV emitido pelo Instituto de Meteorologia pois, mesmo com temperaturas amenas ou com vento, este chega à nossa pele com a mesma intensidade.

Os raios UV refletem em superfícies claras e espelhadas como a areia branca e a água, assim, o estar dentro de água ou na sombra não nos protege totalmente, logo, a foto proteção é essencial.

A pele da criança é menos pigmentada, mais fina e mais sensível, em especial a dos lactentes pela grande imaturidade das estruturas que a constituem, tornando-a mais vulnerável a agressões externas onde se inclui a radiação solar. A queimadura solar é assim mais fácil na criança do que no adolescente ou no adulto.

Com a chegada do Verão, são necessários cuidados acrescidos com as crianças:

  • Crianças com menos de 6 meses não devem ser sujeitas a exposição solar.
  • Evite a exposição direta de crianças com menos de 3 anos.
  • Evite a exposição ao sol entre as 11h e as 17 h – sombra aumentada hora apropriada.
  • Se o índice UV for igual ou superior a 8, as crianças não devem fazer exposição solar, mesmo com todas as medidas de proteção implementadas.
  • As crianças com cabelo, pele e olhos claros queimam com facilidade, devendo ser alvo de particular cuidado aquando da exposição ao sol.
  • Use chapéu ou boné de aba larga que proteja o rosto, o pescoço e as orelhas da criança.
  • É igualmente importante o uso de óculos de sol com proteção contra os raios UV.
  • Vista a criança com roupas frescas e confortáveis e preferencialmente de algodão, de forma a cubrir os braços e as pernas.
  • Roupas com Fator de Proteção Ultravioleta (UPF) oferecem segurança extra.
  • É mais importante cobrir a pele com vestuário, chapéu e óculos de sol, do que aplicar foto protetores pois estes constituem apenas um complemento de proteção.
  • O uso de protetor solar não está recomendado em idades inferiores a 6 meses.
  • Use cortinas de janela ou peliculas de proteção solar no carro para evitar a luz solar direta e o sobreaquecimento.
  • Use sistemas de transporte com capota com proteção solar, evitando o uso de fraldas de pano ou mantas a tapar.

Calor

 

O aumento da temperatura e ambientes com pouca circulação de ar levam a que a criança fique mais sonolenta, irritada e que não se alimente tão bem, além de que, estas transpiram mais perdendo uma maior quantidade de líquidos, por isso, é importante ter especial atenção com a sua hidratação.

É comum que as mãos e os pés das crianças recém-nascidas fiquem mais frios, mesmo nos dias quentes, mas observe a criança, pois se o rosto estiver avermelhado e/ou suado e/ou corpo muito quente, estes serão bons indicadores de que a criança possa estar sobreaquecida.

No verão, ajude a criança a manter-se tranquila e a lidar eficazmente com o calor:

  • Areje a casa, tendo especial cuidado com a exposição da criança a correntes de ar.
  • Privilegie o uso de ventiladores, não o colocando virado diretamente para a criança.
  • Para o uso do ar condicionado, certifique-se da manutenção do mesmo.
  • Evite mudanças bruscas de temperatura, mantendo o ambiente agradável.
  • Humidifique o ambiente usando um recipiente com água ou um humidificador de ar.
  • Aplique soro fisiológico no nariz da criança, com alguma regularidade, para evitar que as suas mucosas nasais e vias respiratórias ressequem ou desidratem.
  • Crianças que se alimentam apenas de leite materno não precisam de beber água.
  • Ofereça a mama em livre demanda para manter a hidratação – notará que esta mamará menos tempo, mas mais vezes ao dia.
  • Se a criança se alimenta com leite artificial, fale com o pediatra sobre a eventual necessidade de oferecer água, especialmente nos dias mais quentes.
  • Privilegie o contacto pele a pele, despindo a criança, principalmente na hora da mamada.
  • Aproveite o momento da muda da fralda para a refrescar.
  • Se o tempo estiver muito quente pode deixá-la apenas de fralda.
  • Pode utilizar compressas humedecidas com água fria para passar nas suas pernas e braços de modo a baixar a temperatura corporal.
  • Tenha em atenção as zonas de pregas cutâneas e, troque a fralda logo que perceba que esta está molhada ou suja secando bem a pele para evitar o aparecimento de irritações.
  • Após o banho ou a exposição solar, aplique produtos calmantes e hidratantes da pele.

Se for de férias, há ainda pequenos truques que pode utilizar:

  • Se viajar de carro, faça várias paragens e retire a criança da cadeira de transporte, evitando que esta fique mais de 2h seguidas sem sair da mesma.
  • Nunca deixe a criança dentro do carro estacionado.
  • Evite as piscinas pelo risco de infeções bem como, pela ação do cloro, o qual pode provocar irritações em peles mais sensíveis.

Insetos

 

É no Verão que, com o aumento da temperatura e da humidade, costuma haver o maior número de casos de picadas de insetos e, apesar de a grande maioria dos mosquitos em Portugal não transmitir doenças graves, as suas picadas provocam reações inflamatórias, por vezes intensas e incómodas, que irritam as crianças e preocupam os pais.

Desta forma também devemos ter estratégias para evitá-las:

  • Proteja portas e janelas com telas ou redes mosquiteiras.
  • Mantenha as crianças dentro de casa ao amanhecer e ao anoitecer, alturas em que os insetos picam mais.
  • Use ventiladores ou ar condicionado para arrefecer os locais previamente.
  • Use dispositivos repelentes de insetos ultrassónicos dado que estes não são tóxicos, contudo também só são eficazes para alguns tipos de insetos.
  • Os vaporizadores elétricos podem ser usados, mas, sempre desligados antes de a criança entrar na divisão.
  • Vista a criança com roupas leves e que cubram a maior parto do corpo.
  • O uso de repelentes corporais, tais como DEET, icaridina e IR 3535 (nas concentrações mais baixas possível, cerca de 10%) só está recomendado em crianças após os dois meses de idade.
  • Aplique o repelente corporal numa camada fina apenas na pele exposta da criança, evitando mãos, olhos, boca, pele ferida ou irritada e zonas de eczema.
  • Grandes quantidades não são mais eficazes e aumentam a toxicidade.
  • Cubra os sistemas de transporte com mosquiteiros adequados.
  • Evite zonas de águas paradas, locais onde se verifica uma maior concentração de insetos.
  • Não perturbe ninhos de insetos.
  • Mantenha os alimentos e bebidas tapados enquanto estiver ao ar livre.

Desfrute agora de uma forma mais saudável, segura e tranquila do Verão com o seu bebé!

Referências
1. F. Guerra, Rodrigo et al. (2011) “O sol, a praia e a pele das crianças”, Acta Pediátrica Portuguesa Vol. 42 N 2, Lisboa: Sociedade Portuguesa de Pediatria, 71-77
2. https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/131210/2/434408.pdf (acedido em 6/06/2021)
3. https://www.cdc.gov/ncezid/dvbd/about/prevent-bites.html (acedido em 6/06/2021)
4. http://apcancrocutaneo.pt/index.php/prevencao/cuidados-a-ter (acedido em 6/06/2021)
5. http://criancaefamilia.spp.pt/promocao-de-saude/sol-esse-grande-amigo.aspx (acedido em 6/06/2021)
6. https://www.spdv.pt/op/document/?co=641&h=fed59&in=1 (acedido em 6/06/2021)
7. https://www.dgs.pt/saude-ambiental-calor/verao-em-seguranca/proteja-se-do-sol.aspx (acedido em 6/06/2021)
8. http://www.apcancrocutaneo.pt/attachments/article/129/UVguia.pdf (acedido em 6/06/2021).